“Jair Pereira foi cognominado pela
imprensa como o “Tufão”. O nosso atacante foi o artilheiro do time com cinco
gols no Campeonato, e como fato interessante, foi quem marcou o primeiro gol no
início do Campeonato, contra o Botafogo, e quem encerrou no returno, contra a
Portuguesa. O “Tufão” fez 2 gols contra os alvinegros, 2 contra o Olaria e 1
contra a Portuguesa. Na foto, Jair Pereira, num lance espetacular, é derrubado
por Assis, do Fluminense, quando se preparava para marcar. Além de valente e
decidido, o “Jajá do Bonsuça” é um artilheiro nato”. Revista do Bonsucesso/agosto/1969.
Centenário do Bonsucesso,
2013: Jair Pereira é homenageado. Foto: Raffa Tamburini.
O “Tufão da Teixeira de
Castro”, Jair Pereira da Silva, o “Jair Pereira” dos gramados, completa hoje 75
anos* de idade. Um dos grandes nomes da equipe rubro-anil no final dos anos 60,
tem uma bela carreira como jogador e treinador de futebol. Assumiu a
titularidade na equipe na Taça Guanabara de 1968 (competição independente do
Carioca) e até 1973 registrou seu talento e seus gols nos Cariocas pelo Bonsucesso
(é o artilheiro rubro-anil no Maracanã pelos Campeonatos Cariocas = 7 gols). Antes
do Bonsuça, honrou as camisas do Madureira e Flamengo. Vestiu também as camisas
do Olaria, Santa Cruz, Vasco da Gama e Bangu. Ao encerrar a carreira de
jogador, brilhou como técnico em várias equipes e na Seleção Brasileira
conquistou os títulos do Sul-Americano de Futebol Sub 20 de 1983/1985 e do Mundial
de Futebol Sub 20 de 1983.
Seleção Sub 20 de 1983. Jair Pereira é o terceiro da direita para a esquerda, uniforme branco. Foto:
Divulgação CBF.
Taça Guanabara 1968, da
esquerda para a direita, atletas em pé: Jonas, Luís Carlos, Paulo Lumumba,
Moisés, Sá e Albérico. Agachados: Waldir, Gonçalves, JAIR PEREIRA, Didinho e
Fifi. Foto: arquivo.
A Revista do Bonsucesso,
edição abril de 1969, ao apresentar o elenco à torcida, classificou Jair
Pereira dessa forma:
“atacante ponta de lança –
Jair Pereira da Silva – carioca – 22 anos – 1,67 – 70 quilos – iniciou no
Madureira A.C (juvenil e time titular) devido às suas grandes atuações foi
transferido para o Flamengo, onde atuou com destaque – veio para o Bonsucesso
em 68, tendo o clube da Gávea cedido seu passe ao nosso clube gratuitamente
numa manobra hábil do presidente Fuad. Características: bom rompedor de área;
valente, decidido, arisco e inteligente com a bola nos pés; joga sem bola para
perturbar as defesas adversárias – um grande valor; bate forte com os dois pés
e é rápido nas manobras de área”.
Elenco de 1969, da esquerda para a direita,
atletas em pé: Luís Carlos, Lumumba, Ubirajara, Moisés, Renê e Albérico.
Agachados: Gibira, Fifi, JAIR PEREIRA, Didinho e Waldir. O 1º em pé da esquerda
para a direita, de branco, Técnico Duque. O 1º agachado da esquerda para a
direita, massagista Abdias. Foto: Revista Bonsucesso/abril/1969.
E para homenagear o ídolo
rubro-anil, trechos de uma entrevista à Revista Bonsucesso, edição fevereiro de
1970. Parabéns, Jair Pereira:
“Jovem, brioso e dono de uma
garra incomum, Jair Pereira inicia, neste mês, essa seção. Rapaz de excelente
formação moral, chefe de família dedicado, bom filho e uma “grande praça”, o
nosso “tanque”, é sem dúvida, uma das peças importantes na luta que se
avizinha, no Campeonato Carioca e na Taça Guanabara. Carioca, com 23 anos de
idade, casado e em vésperas de “estrear” de papai, Jair Pereira – que a crônica
esportiva denominou de “Tufão” – fala de suas ambições, de seu futuro, sem
esquecer no entretanto do passado que não vai tão distante quando iniciou sua
vida desportiva.
Sobre sua vida como jogador de
futebol, Jair Pereira declarou o seguinte:
_ É com grande satisfação que
concedo essa entrevista à REVISTA DO BONSUCESSO, porque já aprendi a gostar
desse Clube, como se ele fosse um prolongamento de meu lar. Iniciei a minha
carreira no infanto-juvenil do Madureira Atlético Clube, onde atuei nos juvenis
e no quadro titular em 1966, com apenas 17 anos. No início do ano seguinte fui
negociado com o Flamengo por 3 mil cruzeiros novos, tendo lá na Gávea atuado no
quadro de aspirantes e de profissionais. Como atravessava uma fase incerta, devido
à mudança rápida de clube, consegui junto ao presidente Veiga Brito a minha
cessão ao Bonsucesso, porque já alimentava esperanças de poder ser útil a este
tão simpático Clube. Devo declarar, a bem da verdade, que a transação se deu
devido ao espírito e sagacidade do presidente Fuad Bunahum, que convenceu ao
presidente do Flamengo que eu fosse transferido definitivamente para o
Bonsucesso, sem ônus algum. Isso me trouxe alma nova, e aqui chegando, procurei
dar tudo de mim pelo Clube que confiava na minha carreira. Graças a Deus, hoje
me sinto realizado em parte, porque o Bonsucesso foi para mim “os ovos de
ouro”, que tanto almejava e precisava para demonstrar todo o meu valor. Hoje,
passado o período de transição, já sinto que está chegando a hora de provar aos
descrentes que tenho personalidade e que sou aquele jogador que muitas equipes
procuram, porque sou, antes de tudo, um homem que tem um objetivo, e esse é o
de vencer na vida, custe o que custar, porque sou jovem, valente e dono de
muita garra, modéstia à parte.
Continuando, Jair Pereira
aduziu:
_ Sei que a luta pela vida é
bem difícil, porém tenho confiança em mim, e demonstrarei nesse Campeonato e na
Taça Guanabara que, de fato, mereço também um lugar ao sol, como vários
companheiros já mereceram. No ano passado fui o artilheiro da equipe com seis
gols, porém, neste ano, espero que a minha estrela brilhe mais, e possa brigar
pelo título de artilheiro da cidade.
Sobre os treinadores que já
passaram em sua carreira, Jair Pereira declarou:
_ Devo em parte muito de meus
progressos técnicos no ano passado ao professor Duque, na prática, e aos
conselhos bem paternos do professor Ernesto dos Santos; porém, com cada
treinador que eu tive a ventura de trabalhar, sempre aprendi um pouco mais.
Entre eles, posso citar, no Madureira – Bimba e Apel; no Flamengo – Valter Miraglia,
Renganeschi (que me lançou no quadro titular), Aimoré Moreira e Bria, e no
Bonsucesso – o grande amigo “seu” Velha, Duque, e agora o professor Paulo
Emílio – em quem confio muito, sem, contudo, de dar uma menção especial ao
carinho e desvelo do excelente preparador físico Eithel Seixas e a grande
equipe médica do Bonsucesso sob o comando do competente Dr. Nilson Allan. A
eles, eu devo em grande dose o meu sucesso e a minha ascensão técnica e física.
Sobre o seu futuro, Jair
Pereira disse:
_ Como chefe de família, e à
espera da chegada do meu primeiro filhinho, devo declarar que o meu grande
sonho é que o meu primogênito venha com saúde e perfeito, e que Deus conceda
suas Graças de uma boa hora para a minha querida esposa. No campo profissional,
espero que 1970 seja o meu ano de glórias, pois preciso ainda fazer a minha
independência econômica. Que esse desejo se torne realidade, porque preciso dar
ao meu Bonsucesso aquele lugar que tão bem merece no conceito da crônica
esportiva e na do público em geral: Nós seremos de fato nesse ano o “Superbonsuça”,
mandando aquela “braza” sobre os demais. Força de vontade e “peito”, não me
faltam, e nem aos meus colegas da equipe, porque se chegamos a uma posição de
relevo no campeonato passado, temos a obrigação de pelo menos mantermos aquela
posição, para alegria de nossa torcida e do nosso quadro social. O Clube será
mais uma vez o objeto das manchetes nos jornais e nas rádios, lá isso eu e meus
companheiros de equipe não duvidamos.
Ao se despedir dos leitores da
Revista do Bonsucesso, Jair Pereira finalizou:
_ Quero, também, aproveitar o
ensejo que se está me oferecendo, para desejar ao quadro social, à torcida
rubro-anil, à Diretoria e aos meus companheiros de equipe um 1970 venturoso,
fazendo votos para que esse ano venha novamente ser de muitas alegrias para
todos nós”.
Em 2020, entrevista para
Sérgio Du Bocage no quadro “No Álbum da Bola”, homenagem aos 74 anos de
Jair Pereira, programa "No Mundo da Bola". Foto: TV Brasil.
Revista do Bonsucesso/fevereiro/1970.
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